sábado, 10 de julho de 2010

Duas decadas sem nosso grande Cazuza.



Morto há duas décadas, o cantor de 'Exagerado' deixou obra intensa e urgente como sua vida.Imagine uma Maysa que destilasse suas mágoas entre álcool e rocks feitos com a virulência de uma Janis Joplin. Cazuza era mais ou menos assim. Embora Cazuza fosse, acima de tudo, Cazuza - um cantor e compositor de personalidade tão própria que hoje, 20 anos depois de sua morte, ele continua como um dos símbolos mais fortes do pop rock brasileiro. Ícone da geração 80, ele se tornou atemporal. E hoje somente Renato Russo, o outro ídolo da mesma geração, é páreo para Cazuza no imaginário popular. Por coincidência, ambos saíram de cena precocemente, vítimas da Aids. E, por uma ironia do destino, o mentor de Cazuza, Ezequiel Neves, mentor do Barão Vermelho, morreu no dia, 7 de julho de 2010, exatos 20 anos depois de Cazuza. Se Renato Russo recorria a metáforas para falar poeticamente de relacionamento e ética nas esferas pública e privada, Cazuza fez de sua obra um tapa na cara da hipocrisia. Ele expôs as fraturas de sua geração com poesia crua. De início, essa poesia foi embalada num rock básico à moda dos Rolling Stones, principal influência do Barão Vermelho, o grupo que projetou Cazuza quando Leo Jaime recusou o posto de vocalista. Mas Cazuza tinha também dentro dele uma Maysa. E essa começou a brotar em sua carreira solo, marcada de início pelo hit "Exagerado", tradução perfeita de seu modo de vida (e também da vida de Ezequiel, seu parceiro na música). É que a descoberta da Aids transformou Cazuza e sua obra. É quando ela ganha maior dimensão política, perceptível no terceiro disco solo de Cazuza, Ideologia, a obra-prima de sua carreira individual. É quando o artista se aproxima da MPB sem abandonar sua veia pop. A partir daquele momento, 1988, um rock podia conviver harmoniosamente em sua obra com uma balada de espírito bossa-novista, "Faz parte do meu show".

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